8 DE JULHO DE 1823 - Moronguêtá - Memorial do Livro

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08 julho 2016

8 DE JULHO DE 1823

8 DE JULHO DE 1823 ­ Por decreto desta data foi agraciado com o habito de Christo João Francisco Madureira Pará, que exerceu os cargos de capellão supra-numerario da cathedral de Belêm e de amanuense da contadoria da Juncta da Fazenda Real do Estado, e foi fundador de uma typographia no Pará e inventor de diversas máquinas para navegação.
João Francisco de Madureira Pará era natural de Belêm, onde nasceu a 12 de Outubro de 1797, segundo se refere na follha do rosto do «Discurso recitado na Alta Presença de Sua Magestade Imperiar, Defensor Perpetuo Constitucional do Brasil o Senhor D. Pedro Primeiro. Em o dia 15 de Julho de 1825, Rio de Janeiro». Este bombástico discurso, eivado de desprositos que bem detonam o espírito desequilibrado do seu auctor, começa deste modo:
«Senhor. Ante V.S Magestade depois de inclinar o cume que termina o meu débil todo, para tributar a parte mais sublime d’hûa Alma livre, com a maior submissão e respeito, pesso licença para falar.»
Nelle descreve Madureira os aontecimentos que succederam ao seu nascimento, seu abandono e sua criação:
«...eu nasci...não sei se de hulmides, ou de Nobres Pais; o que sei he que apenas vi a luz pela primeira vez fui logo (por motivos a mim vedados) envolvido nas primeiras vestes, e exposto em huma Casa particular da qual batendo-se a porta quando já inclinava a noite para o seu termo; ao abrirem-na, acharão huma condença, sem que vissem quem a transportara; porém ouvindo-me chorar, conheceo logo a dona da Caza a importância do negocio, que ali me conduzia tão cedo, entre o prazer,e acompaixão tratou logo de examinar-me, e achando-me entre a roupa ainda tinta de sangue, achou tambem hum papel escrito, com estas frases: = Virtuosa Snrª, se tendes como paresse huma alma generosa, exercitaia com este innocente, que a Omnipotencia incomprehensivel deposito nas vossas mãos, por que conhece a grandeza da Vossa Alma. Nada mais deveis saber,se não que sois escolhida para mai de hum innocente, a quem a sorte adversa com a maior atrocidade opprime já do berço: não mais, que para cumprir os Decretos impreteríveis da Provincia; a vossa humanidade para com elle será só capaz de reconciliar huma Mãi inconsolável pela perda de um filho, a quem a tyrania roubára apenas tocou a terra, e a quem o vosso repudio entregará nos braços da desesperação e da morte = ».
Continúa elle dizendo que foi creado pela referida senhora(1), que era pobre e o mandára ensinar a ler e a escrever por mestres que iam à sua casa, freqüentando depois a aula de Latinidade, com tenção de se formar em alguma Faculdade. A falta porêm de meios obrigou-o a tomar a cargo de capellão addido à egreja parochial da Sé, para o qual foi nomeado em 21 de Julho de 1813, por provisão do bispo, servindo nelle por mais de anno e meio, sem ordenado algum. Aos 7 de Fevereiro de 1815, por privisão de d. Manuel de Alemeida de Carvalho, passada a requerimento seu, foi elle nomeado capellão supra-numerario da cathedral, «para poder entrar ao Côro da mesma, e nella recitar os Officios Divinos com os Capellaens Acholitos».
O governador e capitão genral conde de Villa Flôr,por provisão de 27 d e Janeiro de 1818, nomeou-o amanuense da contaria da Juncta as Fazenda Real, com o ordenado de 120$000 rs., por esdtar aquelle logar vago com a demissão de João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha.« Já contava quatro lustros, e achava-se exercendo este emprêgo» quando falleceu sua mãe adotiva. Foi então que concebeu o árduo projecto de arranjar uma huma Typographia; sem já mais haver exercitado Arte, ou Officio algum, não tendo jamais sahido do meu Paiz natalício, tendo só por companheiros a minha fraca industria, e assídua vontade de ser util».
Para se empregar na factura della, pediu o Govêrno dispensa do serviço, que lhe foi concedida, applicando-se então a «abrir ponçoens», moldar os caracteres, fundir os typos e dirigir os trabalhos da machina; organizando finalmente a imprensa, que poz em estado de poder trabalhar.
Em 28 de Maio de 1821 apresentou elle ao Govêrno um requerimento impresso na sua typographia, com o qual mostrava já poder ella trabalhar, pequerendo para isso a competente licença. Este requerimento foi por elle apresentado pessoalmente aos membros da Juncta do Govêrno Provisorio, em sessão de 28 de Maio de 1821, sendo recebido com muitos elogios e aprazimento e consideração a todos.
Em attestado de 26 de Septembro de 1821 confirmou o Senado da Camara de Belém que «João Francisco de Madureira he natural desta Provincia, onde não lhe servindo de obstáculo o ser Amanuense da Cantadoria da Fazenda Nacional desta Capital, transportado d’alegria pela liberdade da sua Patria, concebeo o árduo projecto de arranjar huma Thipographia; que a pôs em pratica fabricando elle mesmo tudo, sem outras luzes que as lhe ministrarão os conhecimentos naturaes, não tendo nunca exercido Arte ou Officio algum, sem sem ter já mais sahido do seu  Paiz natal, e sem mais socorro que a sua industria e verdadeiro Patriotismo»(1).
Depois do requerimento por elle apresentado ao Governo Provisorio, imprimiu Madureira na sua typographia, gratuitamente, papeis para expediente da Secretaria do mesmo Governo e mais de mil differentes impressos que distribuiu pelos seus concidadãoes, abrindo-se então entre estes uma subscriptação, abrindo-se então entre estes uma subscripção, abrindo-se então entre estes uma subscripção, cujo o producto lhe permittiu «reçareir» o que devia.
Pediu depois licença de um anno, par ir a Lisbôa. Afim de implorar um auxilio a sua magestade e instruir-se no mais fácil manejo da typographia, continuando no aperfeiçoamento della. Sendo lhe concedida esta licença sem vencimento algum, prestou-lhe auxilio um negociante de Belêm (João Pedro Ardase, cujo nome não cita), que lhe ministrou passagem gratuita e o recomendou a um amigo de Lisbôa, dispondo-se a prestar-lhe os socorros de que necessitasse durante a sua estada naquella cidade. Partiu elle do Pará a 28 de Novembro de 1821e chegou a Lisbôa em 18 de Fevereiro do anno seguinte, apresentando-se logo a d. João VI, que lhe acconselhou tequeresse ás Côrtes, que o despachariam immediantamente. Dirigiu então Madureira a ellas uma Memoria, na qual fazia ver o «estado pretérito, a declinação presente, e o brilho futuro a que podia ser ellevado aquelle Paiz BM aventurado em sua essência, e tão mal fadado na sua influencia: pedindo para isto as providencias que julgou mais capazes de promover a prompta melhora».
Requereu depois que lhe mandasem dar prelo com todos os seus perences, de cinco ou seis que se achavam devolutos em Coimbra, entrando elle com a importancia avaliada nos cofres do Pará. Não foi atrtendida esta petição, nada mais conseguido elle obter até a dissolução das Côrtes. Requereu então ao rei accesso no seu emprego;pediram-se ao Governo do Pará informações,que chegaram com promptidão e tiveram a mesma sorte que os requerimentos, ficando no Thesouro Publico, em solução.
Offereceu um mínimo (cuja natureza não diz) a d. João VI, que o acceitou e agradeceu, nomeando-o cavalleiro da Ordem de Christo, cujo o diploma não lhe foi logo passado, por não querer fazê-lo o ministro, segundo refere elle. Fez por este tempo um requerimento á Juncta do Commercio de Lisbôa, «mostrando que tinha descuberto dous inventos, para melhorar a Navegação, capazes de a ellevar ao maior apuro; os quaes eraõ, hum para fazer navegar as Embarcações com todos os ventos em linha recta, sem soffreram a menor deficuidade, ainda mesmo nas sahidas ou entradas dos portos; cujo outro para faze-las navegar sem vento, e sem vapor nas calmarias, sem que estas lhe estas lhe impessaõ o andamento, antes fazendo huma prospera viagem, como se faria na occorrencia de bons ventos; alem das innumeraveis vatagens que lhe são anexas». Para estes inventos pediu elle privilegio, afim de poder «estabelecer Barcos communs no rio Amazonas, e seus confluentes, por hum tempo determinado; de quando em diante ficaria livre a toda a Nação o seu uzo». Não tendo solução o seu requerimento, reclamou os planos e «callou-se com elles».
Foi lhe entregue por essa epocha o diploma de cavalleiro de Christo. Animado então com a real protecção, deliberou tornar a requerer á Juncta do Commercio tres privilégios sobre novas máquinas, «que são de summa utilidade ao Brazil», sendo despachado: ­ Junte os desenhos com a competente explicação».
Quando apromptava os desenhos pedidos pela Juncta, “foi quando reverberou a sagrada noticia de que o Pará havia proclamado a sua Independencia a quinze de Agosto de mesmo anno, e anuído a justa causa do Brasil...».
Esteve depois, em Lisbôa, em criticas circunstacias, sendo socorrido por um amigo, até que d. Pedro I lhe presenteou meios de transportar-se para o Rio de Janeiro, onde chegou finalmente aos 5 de Junho de 1825. (V. 11 de Fevereiro de 1830 e 16 de Novembro desse anno.)



(1) Esta senhora, de quem elle cala o nome, era a mulher de João Francisco de Madureira, cujo nome foi dado ao abandonado. O nome Pará foi por este depois accrescentado.
(1)  (Bibl. Nac do Rio de Janeiro, lata n. 3, doc. biogr.)

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