8 DE JULHO DE 1823
8 DE JULHO DE 1823 Por decreto desta data foi agraciado
com o habito de Christo João Francisco Madureira Pará, que exerceu os cargos de
capellão supra-numerario da cathedral de Belêm e de amanuense da contadoria da
Juncta da Fazenda Real do Estado, e foi fundador de uma typographia no Pará e
inventor de diversas máquinas para navegação.
João
Francisco de Madureira Pará era natural de Belêm, onde nasceu a 12 de Outubro
de 1797, segundo se refere na follha do rosto do «Discurso recitado na Alta Presença de Sua Magestade
Imperiar, Defensor Perpetuo Constitucional do Brasil o Senhor D. Pedro
Primeiro. Em o dia 15 de Julho de 1825, Rio
de Janeiro». Este bombástico
discurso, eivado de desprositos que bem detonam o espírito desequilibrado do
seu auctor, começa deste modo:
«Senhor.
Ante V.S Magestade depois de inclinar o cume que termina o meu débil todo, para
tributar a parte mais sublime d’hûa Alma livre, com a maior submissão e
respeito, pesso licença para falar.»
Nelle
descreve Madureira os aontecimentos que succederam ao seu nascimento, seu
abandono e sua criação:
«...eu
nasci...não sei se de hulmides, ou de Nobres Pais; o que sei he que apenas vi a
luz pela primeira vez fui logo (por motivos a mim vedados) envolvido nas
primeiras vestes, e exposto em huma Casa particular da qual batendo-se a porta
quando já inclinava a noite para o seu termo; ao abrirem-na, acharão huma
condença, sem que vissem quem a transportara; porém ouvindo-me chorar, conheceo
logo a dona da Caza a importância do negocio, que ali me conduzia tão cedo,
entre o prazer,e acompaixão tratou logo de examinar-me, e achando-me entre a
roupa ainda tinta de sangue, achou tambem hum papel escrito, com estas frases:
= Virtuosa Snrª, se tendes como paresse huma alma generosa, exercitaia com este
innocente, que a Omnipotencia incomprehensivel deposito nas vossas mãos, por
que conhece a grandeza da Vossa Alma. Nada mais deveis saber,se não que sois
escolhida para mai de hum innocente, a quem a sorte adversa com a maior
atrocidade opprime já do berço: não mais, que para cumprir os Decretos
impreteríveis da Provincia; a vossa humanidade para com elle será só capaz de
reconciliar huma Mãi inconsolável pela perda de um filho, a quem a tyrania
roubára apenas tocou a terra, e a quem o vosso repudio entregará nos braços da
desesperação e da morte = ».
Continúa
elle dizendo que foi creado pela referida senhora(1),
que era pobre e o mandára ensinar a ler e a escrever por mestres que iam à sua
casa, freqüentando depois a aula de Latinidade, com tenção de se formar em
alguma Faculdade. A falta porêm de meios obrigou-o a tomar a cargo de capellão
addido à egreja parochial da Sé, para o qual foi nomeado em 21 de Julho de
1813, por provisão do bispo, servindo nelle por mais de anno e meio, sem
ordenado algum. Aos 7 de Fevereiro de 1815, por privisão de d. Manuel de
Alemeida de Carvalho, passada a requerimento seu, foi elle nomeado capellão
supra-numerario da cathedral, «para
poder entrar ao Côro da mesma, e nella recitar os Officios Divinos com
os Capellaens Acholitos».
O governador e capitão
genral conde de Villa Flôr,por provisão de 27 d e Janeiro de 1818, nomeou-o
amanuense da contaria da Juncta as Fazenda Real, com o ordenado de 120$000 rs.,
por esdtar aquelle logar vago com a demissão de João Batista de Figueiredo
Tenreiro Aranha.« Já contava quatro lustros, e achava-se exercendo este emprêgo»
quando falleceu sua mãe adotiva. Foi então que concebeu o árduo projecto de
arranjar uma huma Typographia; sem já mais haver exercitado Arte, ou Officio
algum, não tendo jamais sahido do meu Paiz natalício, tendo só por companheiros
a minha fraca industria, e assídua vontade de ser util».
Para se empregar na factura
della, pediu o Govêrno dispensa do serviço, que lhe foi concedida,
applicando-se então a «abrir ponçoens», moldar os caracteres, fundir os typos e
dirigir os trabalhos da machina; organizando finalmente a imprensa, que poz em
estado de poder trabalhar.
Em 28 de Maio de 1821
apresentou elle ao Govêrno um requerimento impresso na sua typographia, com o
qual mostrava já poder ella trabalhar, pequerendo para isso a competente
licença. Este requerimento foi por elle apresentado pessoalmente aos membros da
Juncta do Govêrno Provisorio, em sessão de 28 de Maio de 1821, sendo recebido
com muitos elogios e aprazimento e consideração a todos.
Em attestado de 26 de
Septembro de 1821 confirmou o Senado da Camara de Belém que «João Francisco de Madureira he natural
desta Provincia, onde não lhe servindo de obstáculo o ser Amanuense da
Cantadoria da Fazenda Nacional desta Capital, transportado d’alegria pela
liberdade da sua Patria, concebeo o árduo projecto de arranjar huma
Thipographia; que a pôs em pratica fabricando elle mesmo tudo, sem outras luzes
que as lhe ministrarão os conhecimentos naturaes, não tendo nunca exercido Arte
ou Officio algum, sem sem ter já mais sahido do seu Paiz natal, e sem mais socorro que a sua
industria e verdadeiro Patriotismo»(1).
Depois do requerimento por
elle apresentado ao Governo Provisorio, imprimiu Madureira na sua typographia,
gratuitamente, papeis para expediente da Secretaria do mesmo Governo e mais de
mil differentes impressos que distribuiu pelos seus concidadãoes, abrindo-se
então entre estes uma subscriptação, abrindo-se então entre estes uma
subscripção, abrindo-se então entre estes uma subscripção, cujo o producto lhe
permittiu «reçareir» o que devia.
Pediu depois licença de um
anno, par ir a Lisbôa. Afim de implorar um auxilio a sua magestade e instruir-se
no mais fácil manejo da typographia, continuando no aperfeiçoamento della.
Sendo lhe concedida esta licença sem vencimento algum, prestou-lhe auxilio um
negociante de Belêm (João Pedro Ardase, cujo nome não cita), que lhe ministrou
passagem gratuita e o recomendou a um amigo de Lisbôa, dispondo-se a
prestar-lhe os socorros de que necessitasse durante a sua estada naquella
cidade. Partiu elle do Pará a 28 de Novembro de 1821e chegou a Lisbôa em 18 de
Fevereiro do anno seguinte, apresentando-se logo a d. João VI, que lhe
acconselhou tequeresse ás Côrtes, que o despachariam immediantamente. Dirigiu
então Madureira a ellas uma Memoria,
na qual fazia ver o «estado
pretérito, a declinação presente, e o brilho futuro a que podia ser ellevado
aquelle Paiz BM aventurado em sua essência, e tão mal fadado na sua influencia:
pedindo para isto as providencias que julgou mais capazes de promover a prompta
melhora».
Requereu depois que lhe
mandasem dar prelo com todos os seus perences, de cinco ou seis que se achavam
devolutos em Coimbra, entrando elle com a importancia avaliada nos cofres do
Pará. Não foi atrtendida esta petição, nada mais conseguido elle obter até a
dissolução das Côrtes. Requereu então ao rei accesso no seu emprego;pediram-se
ao Governo do Pará informações,que chegaram com promptidão e tiveram a mesma
sorte que os requerimentos, ficando no Thesouro Publico, em solução.
Offereceu um mínimo (cuja
natureza não diz) a d. João VI, que o acceitou e agradeceu, nomeando-o
cavalleiro da Ordem de Christo, cujo o diploma não lhe foi logo passado, por
não querer fazê-lo o ministro, segundo refere elle. Fez por este tempo um
requerimento á Juncta do Commercio de Lisbôa, «mostrando
que tinha descuberto dous inventos, para melhorar a Navegação, capazes de a
ellevar ao maior apuro; os quaes eraõ, hum para fazer navegar as Embarcações
com todos os ventos em linha recta, sem soffreram a menor deficuidade, ainda
mesmo nas sahidas ou entradas dos portos; cujo outro para faze-las navegar sem
vento, e sem vapor nas calmarias, sem que estas lhe estas lhe impessaõ o
andamento, antes fazendo huma prospera viagem, como se faria na occorrencia de
bons ventos; alem das innumeraveis vatagens que lhe são anexas». Para estes inventos pediu elle
privilegio, afim de poder «estabelecer
Barcos communs no rio Amazonas, e seus confluentes, por hum tempo determinado;
de quando em diante ficaria livre a toda a Nação o seu uzo». Não tendo solução o seu requerimento,
reclamou os planos e «callou-se
com elles».
Foi lhe entregue por essa
epocha o diploma de cavalleiro de Christo. Animado então com a real protecção, deliberou
tornar a requerer á Juncta do Commercio tres privilégios sobre novas máquinas, «que são de summa utilidade ao Brazil», sendo despachado:
Junte os desenhos com a competente explicação».
Quando apromptava os
desenhos pedidos pela Juncta, “foi quando reverberou a sagrada noticia de que o
Pará havia proclamado a sua Independencia a quinze de Agosto de mesmo anno, e anuído
a justa causa do Brasil...».
Esteve depois, em Lisbôa, em
criticas circunstacias, sendo socorrido por um amigo, até que d. Pedro I lhe
presenteou meios de transportar-se para o Rio de Janeiro, onde chegou
finalmente aos 5 de Junho de 1825. (V. 11 de Fevereiro de 1830 e 16 de Novembro
desse anno.)
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